Entre tantas questões que circundam as mesas de bar, muitas delas tem a ver com o orgulho de uma das pessoas envolvidas de ter consumido cervejas com produções limitadas, com ingredientes extravagantes, etc.
Todavia, há um marco na vida do degustador de cerveja que é raramente batido nessas triviais competições, frequentar o Bier Keller.
O conceito do Bier Keller é de “anti-bar”, situado em um casarão em um bairro residencial de Porto Alegre, sem letreiros luminosos, nem propagandas, muito menos garçons e serviço de cozinha. Com portas sempre fechadas, para ingressar no Bier Keller, é preciso tocar a campainha e ver se a Dona Gerti e o Seu Vitório vão com a sua lata.
Se não há luminosos, movimentos, garçons, o que pode haver de tão especial no Bier Keller?
Na verdade, trata-se de um túnel do tempo, um bar “privado”, a decoração remete aos velhos armazéns, sobre o balcão de madeira maciça, de cinco metros de comprimento, há uma caixa registradora a manivela, uma relíquia do primeiro banco comercial fundado no Rio Grande do Sul.
Ao lado, há uma torneira de chopp resgatada da Confeitaria Rocco, local tradicional de ponto de encontro da aristocracia porto-alegrense no século passado.
Há ainda uma jukebox no canto, placas publicitárias nas paredes, bancos feitos com barris de madeira e uma mesa enorme, que era utilizada para carnear porcos.
Entre as extravagâncias e curiosidades do local, ainda há o aquecimento do banheiro feminino por um fogão à lenha e um pé de lúpulo esgueirando-se pelas paredes do sanitário masculino.
O criador do lugar, Vitório Luiz Levandovski, já trabalhara na Brahma e na Antártica, antes de, no início dos anos 90, antever a revolução que estava por vir no mercado cervejeiro.
As cervejas artesanais estavam a surgir no país, assim, Vitório pediu demissão e começou sua empreitada, visitando por inúmeras cervejarias, bares e distribuidores do país, até abrir seu próprio estabelecimento.
“Eu não queria abrir um bar comum. Queria um bar que as mulheres pudessem frequentar com as amigas, que fosse bonito e aconchegante, com banheiros limpos, copos adequados, cervejas diferentes e que não fossem caras”, afirma Vitório.
Desse modo, Vitório criou o “Água de beber” no centro histórico da capital gaúcha, onde trabalhou com 70 rótulos.
Com isso, Vitório passou a ser um dos grandes incentivadores do mercado, sendo criador das primeiras associações de cervejeiros caseiros, os primeiros festivais, incentivou pequenas fábricas a criarem novas receitas e investirem em outros estilos, etc.
Assim, ele desenvolveu seu conceito até criar o Bier Keller, onde o próprio cliente se serve. O cliente opta por uma entre os 250 rótulos, apanha os corpos no armário e abre a garrafa com um dos abridores espalhados pela casa. Para comer, há um buffet de acepipes, salsichas bock, pão de cerveja e um prato quente, de pernil ou pato.
O cliente ainda pode pedir uma pizza, que é só pagar na porta e comer no Bier Keller.
Os fregueses mais assíduos, ainda podem usar a cozinha, basta levar os ingredientes e preparar o rango.
A clientela ainda pode pagar mensalidade e ter direito a algumas benesses, como participar de eventos, degustações, não precisavam bater na porta.
Essa clientela ainda tem acesso a dois ambientes especiais do Bier Keller, o primeiro, um porão, com as paredes de tijolos à vista e garrafas e canecos no teto, ao lado há uma câmara fria com o estoque da loja.O segundo, descobre-se, ao se empurrar uma das paredes da sala, de modo a abrir uma passagem secreta que dá lugar a outro bar, com balcão e mesas dispostas à espera de quem necessita de um espaço mais privado.